Devir

Ah, essa sombra que adere
às palavras, este falso ruído
de cisnes, este anseio indiviso!
Sou ainda o mesmo de ontem,
devoto feitor de vazios e absurdos?
Escapam de mim, agora,
as garras do tigre, os gumes
alheios à forma, o Nada?
Ah, esse rio de restos de coisas
que corre no avesso de mim!
Ainda?! Ainda?! Ainda?!
As fálicas frestas noturnas
são estes díspares passos
confusos? Conforma-se a alma
à lama dos sons prematuros?
Ah, esse mesmo pendor no viés
das vísceras, arrastando-
se, esta águia em pedaços!
É este o dever? É isto poesia?

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